Pão e Circo

Publicado: 09/05/2011 em - Nós 4 -, Críticas, Educação, Política, Taíza Gama

Na Roma antiga, a escravidão na zona rural fez com que vários camponeses perdessem o emprego e migrassem. O crescimento urbano acabou gerando problemas sociais e o imperador, com medo que a população se revoltasse com a falta de emprego e exigisse melhores condições de vida, acabou criando a política “panem et circenses”,  a política do pão e circo. Nessa medida, o governo de Roma realizava grandes espetáculos, nos quais a população plebeia gastava parte de seu tempo assistindo a disputas esportivas e a lutas entre os gladiadores. Durante a mesma ocasião, alimentos e trigo eram fartamente distribuídos para a população menos favorecida.

O objetivo era alcançado, já que ao mesmo tempo em que a população se distraia e se alimentava também esquecia os problemas e não pensava em rebelar-se. Foram feitas tantas festas para manter a população sob controle, que o calendário romano chegou a ter 175 feriados por ano.

Ao longo do tempo, acreditava-se que o “pão e circo” foi uma tática que conseguiu subverter as diferenças sociais e econômicas por meio do assistencialismo. Em diversos textos contemporâneos observamos que a instituição do “pão e circo” foi utilizada no intuito de criticar ações governamentais em que os menos favorecidos eram ludibriados com a concessão de favores e diversão.

Esta situação ocorrida na Roma antiga muito me faz lembrar com a situação do Brasil atual, onde o crescimento urbano também vem gerando problemas sociais diversos.

Para deixar a população calma e evitar que as massas se rebelem, o nosso Governo cria programas e bolsas (ex.: bolsa família) que engambela os economicamente desfavorecidos e deixa todo mundo feliz e contente.

Estes programas sociais até fariam sentido se também fossem realizados investimentos reais na saúde, segurança, educação… ao invés de servirem apenas como fonte de votos em época de eleição.

Como exemplo da política do “pão e circo” temos o nosso ilustríssimo secretário estadual de Educação do Rio, Wilson Risolia que, recentemente, recebeu estudantes da rede pública de ensino para um papo sem assunto proibido, em seu maravilhoso espetáculo.

Veja alguns trechos do “papo”:

O Estado do Rio só está melhor que o Piauí no Ideb. O que o senhor pretende fazer para melhorar esta situação? (Fábio Cristóvão, Colégio Estadual Infante Dom Henrique)

WILSON RISOLIA: A posição do Rio de Janeiro constrange todo mundo: aluno, professor, o próprio cidadão. É preciso investigar como chegamos nesta situação, e foi o que fizemos nos últimos meses. Mais de um terço dos nossos alunos têm defasagem idade/série. Temos 47% das matrículas no ensino fundamental, que é de responsabilidade dos municípios. Como eles não atendem, somos obrigados a assumir boa parte dessa demanda. Fizemos um levantamento e um quarto das escolas estão em péssimo estado. Nós criamos um plano para os próximos 12 anos, com avaliações bimestrais para ver se está dando certo, mas resolver isso é complicado. (12 ANOS….ELE DISSE DOZE)

A sua primeira medida foi cortar R$ 111 milhões do orçamento, mas as salas de aula onde estudo estão lotadas. Isso não vai na contramão da melhora das escolas? (Thaís Araújo, Colégio Estadual Souza Aguiar)

RISOLIA: O investimento aumentou, o que reduziu foi o gasto. Investimento é para melhorar a condição para professores e alunos. Já gasto é quando eu compro guaraná. (Mas circo combina com guaraná) Economizamos de um lado para poder gastar do outro. Com o dinheiro que conseguimos guardar, (Só se foi guardado no bolso dele) nós pagamos o vale-transporte para os professores, que davam aula em duas unidades e precisavam se locomover. Sobre as salas cheias, o problema é que muitos municípios pedem para abrirmos turmas de ensino fundamental nas nossas escolas, porque eles não dão conta. Aí, precisamos juntar duas turmas do ensino médio para poder liberar uma sala. Se não fizermos isso, a meninada vai ficar na rua. Essa realidade é muito triste e cruel. (E você não faz merda nenhuma pra melhorar)

Hoje, há um limite no número de viagens do passe-livre dos estudantes. Isso atrapalha quem tem atividades extracurriculares. Haverá alguma mudança nesse sentido? (Fábio Cristóvão, Colégio Estadual Infante Dom Henrique)

RISOLIA: Quanto ao passe-livre, é fundamental ter esse controle, porque antes você tinha estudante que pegava o cartão e não aparecia mais na escola. O passe é livre para vocês, mas o governo paga por ele. E o dinheiro sai do mesmo bolso que paga saúde, segurança etc. (E onde está a saúde, segurança etc.?) Poderíamos aumentar o número de viagens? Sim. Mas o orçamento tem restrição. Tomara que no longo prazo consigamos colocar mais recursos para transporte.

Muitos professores abominam o plano de metas em sala de aula. Os estudantes temem também que ele gere aprovação automática e aumente as diferenças entre as unidades. O senhor poderia esclarecer? (Lucas Chequetti, Colégio Estadual Amaro Cavalcanti)

RISOLIA: Você já se consultou com médico particular? (Não, nunca.) Tem médico que custa R$ 100 e outro, R$ 400. Por que todos os professores têm que ser tratados igualmente? Tem os bons e os ruins. (O ruim só é ruim porque ganha 600 reais) Então é preciso valorizar o desempenho, não só do docente, mas de todo mundo que trabalha na escola, da merendeira ao diretor. Por isso que daremos um abono para quem cumprir as metas. (O abono da minha mãe foi de R$0,01 esse mês, e só ganhou essa incrível quantia porque cumpriu as metas). Nosso objetivo é tornar o Rio referência em 12 anos (Ele teve a coragem de repetir os DOZE ANOS). Em 2013, já queremos estar entre os cinco melhores do país. (2013?! Por que não hoje?) Para isso, criamos metas anuais. Há um plano pedagógico para cada segmento e vamos avaliar permanentemente para identificar os problemas e atacá-los. A estratégia está toda casada. Se a gente errar, eu me desculpo, mas tudo foi feito pensando em melhorar a educação de vocês.

Confesso que o vizinho ouviu meu riso ao ler essa ultima frase.

A educação é mesmo uma vergonha nacional que se arrasta há anos e deixa nossos cidadãos cada vez mais vulneráveis à manipulação.

Precisamos de governantes que não se aproveitem das carências de seu povo para obter crescimento pessoal. Será que eles existem?

Enquanto isso….

…A saúde vira circo, a segurança vira circo, a educação vira circo…e a política, sempre foi um circo.

E nós?!

Os palhaços!

comentários
  1. Leandro Vabo disse:

    O que uma crítica não faz heim? kkkkk
    Essa sim é a Taíza que eu conheço. Não era somente pelas poesias que eu te conheço, sei que vc sabe criticar sem perder o humor.
    Adorei o tema tratado foi justamente falando de “pão e circo” que os avaliadores do ENEM me deram 5,5. kkkk
    É preciso uma política de assistencialismo social que não dê apenas o peixe. As pessoas precisam de oportunidade para aprenderem a pescar.
    Quanto ao Secretário, acho q trocaram 6 por meia dúzia (Tereza Porto era péssima) esse nem sei qualificar.
    Parabéns pelo post de hoje
    Bjs
    @leandrovabo